Mais uma noite em claro, é difícil dormir tranquila sabendo que te encontraria no dia seguinte. Muitos eram os sentimentos em meu peito e, obviamente, o mais intenso deles era a dúvida que me sufocava. Percebia que você não fazia a menor questão de se manter próximo, eu já estava um tanto acostumada com a sua ausência. A paixão tinha sido intensa nos velhos tempos, mas você quis jogar sujo.

Nesse sábado passei pelo shopping, só queria me distrair. Sem querer, me esbarrei com um velho amigo e sentamos para tomar um cafezinho. Você se tornou o assunto da conversa sem querer, imprevisto do destino. Sem nenhuma intenção de fofoca, meu amigo comentou sobre a sua viagem. Ri tentando esconder meus sentimentos tão fortes e ele comentou sobre uma garota em suas fotos. Você que sempre fez questão de ser tão frio pela primeira vez tinha aparecido caloroso ao lado de alguém.

“Garota de sorte!” ― falei em silêncio, debochando de mim mesma.

Meu sangue ferveu de ciúmes, senti algo podre. Suspirei fundo e catei meu celular no fundo da bolsa. Não pensei duas vezes antes de mandar a mensagem: você tá namorando? Meu amigo notou que meu rosto se tornou aflito.

―Tá tudo bem?― ele me questionou não entendendo absolutamente nada.

Precisei voltar para casa o mais rápido que pude, ninguém poderia suspeitar da nossa relação secreta. Só quando cheguei observei que você tinha me respondido: quem falou esse absurdo?

Era difícil aceitar que você estava mentindo pra mim, eu confiava cegamente em você! Só queria te ver novamente, estar em seus braços e acreditar que tudo era só um mal-entendido. Algumas vezes alimentamos nossas próprias ilusões, mas é difícil aceitar nossas insistências erradas. Quando entrei em seu perfil, não achei muitas fotos suspeitas. Mas, sim, havia uma garota de sorte ao seu lado.

Domingo saí de casa toda de preto como se estivesse indo para um funeral. Peguei o primeiro trem para o subúrbio, meus sapatos faziam barulho no ritmo de uma marcha fúnebre. Cheguei tão cedo em sua casa que você não acreditou. Minha ansiedade só queria ajeitar as coisas e garantir meu humilde espaço em sua vida.

Mesmo com sono estampado em seu rosto, fui recebida com um longo abraço e convidada para entrar. Tudo parecia sob controle, você parecia feliz em me ver depois de um mês fora da cidade. Deixei minha bolsa no canto da mesa de jantar e sentei no sofá me sentindo realizada por estarmos juntos novamente.

Enquanto você estava na cozinha preparando algo para comer, percebi que seu celular não parava de apitar bem perto de mim. Quando olhei as notificações, surpresa alguma.

Celular desbloqueado e a conversa com o contato “namorada” estava aberta: a ficha tinha caído.

Durante um tempo acreditei em suas palavras, fantasiei numa honestidade que nunca existiu. Dói saber que sempre fui a sua segunda opção, os braços que você procurava quando tudo dava errado em sua vida. Você queria manipular todo mundo ao seu redor, mas já estava ficando insuportável controlar minha rebeldia. Uma rebelde iludida, você debochava da minha tão pura inocência.

Fui a pessoa mais apaixonada por você, mas nunca recebi o devido reconhecimento. Você me fez acreditar em seu papo torto, me usou e me jogou fora como se eu fosse descartável. Carrego comigo um profundo ódio, reconheço o quanto estou triste e decepcionada. Queria ser forte o suficiente para não deixar que as lágrimas rolem pelo meu rosto, a decepção é sempre algo muito forte pra mim.

Enquanto sofro sentindo sua falta, você fica pra lá e pra cá com sua namoradinha. Ela sorri, eu choro. Você deve ter criado uma imagem muito bonita de si mesmo, ela não tem cara de acreditar em qualquer idiota.

Aproveite bem o seu momento feliz. Em breve, ficarei muito bem e muito melhor do que você. Posso estar de luto, mas nenhum luto é eterno para mim.

E você ainda terá o luto que merece.

Música: Black to Black

Artista: Amy Winehouse

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3 comentários sobre “De volta ao luto

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