Suponho que chegará o dia em que todos nós seremos justos com os sentimentos alheios. Encarando meu mórbido reflexo no espelho do bar, me pergunto se sou honesta comigo mesma. Sentada sozinha nessa mesa, entorno mais um shot de cachaça como se isso fosse aliviar minhas lágrimas. Sinto falta de uma companhia, talvez de uma presença bem específica. Parece que enlouquecer é uma consequência inevitável ao lidar com esses relacionamentos modernos.

É difícil ter tanta gente ao meu redor, muitas vezes pessoas vazias que não ligam para o que está nas entrelinhas das minhas frases. Sim, estou cercada por cabeças vazias… E que cabeças são essas? Quais pessoas são capazes de me estender a mão em tempos difíceis? Os tempos difíceis chegaram rápido, a sociedade não mais tem empatia por ninguém.

Mais um shot para apreciar meu encontro comigo mesma. Arrumada com meu melhor vestido, rosto pintado com maquiagens caras: sou uma palhaça com tanta produção! Essa pessoa tão sozinha não sou eu. É difícil encarnar uma personagem pra agradar à pessoa certa. Ou acreditar que há uma pessoa ideal é uma ilusão romântica?

Falsos amigos riem, acham graça nos meus relacionamentos fracassados. Cheguei num ponto em que não mais acredito em sonhos bonitos. Não segui a profissão dos sonhos, não realizei nada que eu queria. Qual é meu brilho pessoal? Ouço risadas e elas me incomodam, certamente é o casal apaixonado ao meu lado. Gente apaixonada me irrita!

Poderia ter ido pra casa, seria melhor ter me poupado dessa vergonha. Mais de meia-noite, me arrumei demais para voltar tão cedo. Essa noite foi a maior decepção que alguém poderia ter me dado, só saí de casa porque queria esquecer essa falácia de coração partido.

Estou enfrentando um momento em que beijos vazios não curariam feridas tão intensas, é horrível achar que alguém seria capaz de te salvar. Sem forças, preciso ser a heroína da minha história. E, para ser sincera, acho que até as mulheres mais fortes se sentem cansadas.

Não, ele não vem. Tudo bem, mais uma dose para celebrar. Antes sozinha do que mal acompanhada.

Música: Wasting Love

Artista: Iron Maiden

Este texto foi possível graças aos apoiadores Rafael Pombo, Ari Alves e Leonardo Custódio. 
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1 comentário sobre “Desperdiçando amor

  1. Marcílio Sousa disse

    Que lindo e bem escrito esse texto 👏🏼👏🏼
    Percebo toques de Psicologia, autopercepção e observação da sociedade 😉

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